Que paralelepípedos podem servir como Maço de Jogo (II)
"(...) visto que" (o Jogo) "é frequentemente referido como "Jogo do Maço" parece-me que a generalização do Maço a um qualquer paralelepípedo é na sua base teórico/prática injustificada. É evidente que nem todos os paralelepípedos permitem a execução do Jogo, e.g., um tíjolo é um paralelepípedo, assim como, um frigorífico, sendo óbvio que tais objectos não permitem "nota artística" (J. Jesus, conferência de imprensa, Benfica-Everton, 2010) por parte dos jogadores, tendo estes que mamar simplesmente a cada jogada que passa (...)"

(o nosso atento comentador tenta fazer-se valer da "carta" Jorge Jesus...)
Ao que, com o atordoadoamento próprio de quem lê o impensável, se responde que "um tijolo" e "um frigorífico" - para nos atermos aos exemplos sugeridos pelo nosso amável comentador - permitem, como é fácil de imaginar, "nota artística". Os desafios mecânicos que tais dispositivos levantam são seguramente diferentes, tanto entre si como em relação àqueles proporcionados por um vulgar maço de tabaco. Mas nem Jorge Jesus, correctamente citado pelo nosso afável comentador Tiago Ferreira, se atreveria a deixar de atribuir "nota artística" à maior parte dos golos do último mundialito de futebol de praia, não obstante o esférico ali utilizado ser de dimensões e características notoriamente distintas das da bola "Roteiro", criada a propósito do Euro 2004.

(na foto, conjunto de Jogadores preparam uma sessão do Jogo do Maço)
O Jogo do Maço, diga-se de passagem, é inclusivo e universal - no que estamos de acordo com o nosso franco comentador. Todos o podem e devem jogar, a qualquer altura. Um maço de tabaco não é,de modo algum, um requisito - sendo que o gentil comentador, acostumado, quiçá, a limitar as suas sessões de (Jogo do) Maço a noitadas em tascas, acompanhado de fumadores quezilentos, se habituou a utilizar exclusivamente aquele género específico de paralelepípedo. Mas tal configura apenas um hábito, próprio do nosso cândido comentador - que não uma regra de aplicação geral.
O nosso cordial comentador, no entanto, prossegue:
"Vejamos por exemplo o que aconteceria se na Suécia fosse jogado tradicionalmente com um tijolo. Um Português, ao ali jogar, habituado à prática saudável de usar o Maço original, seria incapaz de mostrar os seus dotes, o seu precioso tecnicismo."
A resposta ao nosso efusivo comentador pode deduzir-se do que atrás ficou escrito. Mas adicione-se-lhe o seguinte:
O Jogo do Maço é, sobretudo, um jogo mental. Também por esta mesma razão, aliás, é proibido praticar, solitariamente, com o intuito de aprimorar a técnica (tema a ser detalhado num futuro post). O "tecnicismo" a que se refere o nosso benévolo comentador é absolutamente secundário à prática do Jogo. Este convoca, antes de mais, uma determinada predisposição intelectual, que permita aos seus Jogadores a transcendência da mera realidade física envolvente. O Maço de Jogo é uma projecção (num paralelepípedo) dos obstáculos que a vida nos coloca. A Jogada é a materialização do desejo de ultrapassá-los.

(na imagem, António Silva e Manuel Lopes, dois Jogadores recém-iniciados, preparam-se para uma Jogada)
Tal é verdade para um maço de tabaco, um tijolo ou um frigorífico. E não resistimos aqui a citar uma velha máxima Zen, cuja aplicação ao mais maravilhoso dos jogos - aquele ao qual este blog se dedica - me parece, agora, perfeitamente esclarecida. Talvez que o nosso cortês comentador a conheça:
"Quando se te acabarem as setas, dispara com o coração". Sic est.
Etiquetas: paralelepípedo, polémicas








Da importância, para o estabelecimento das regras do Jogo do Maço, daquele trecho, não se pode duvidar, nem de modo algum excluí-lo do conjunto da "bibliografia relevante" para o assunto em causa.