domingo

Que paralelepípedos podem servir de Maço de Jogo?

Em relação ao seguinte post, que recentemente fizemos publicar:

"PARA SE JOGAR O JOGO DO MAÇO É NECESSÁRIO UM PARALELEPÍPEDO

Assim é, efectivamente. 

Normalmente, um maço de tabaco. Mas qualquer paralelepípedeo servirá.",

recebemos uma interessante resposta da parte do comentador Ricardo Guerra, aqui inteiramente reproduzida:

"Esta anotação é bastante mais que meramente discutível e desde já apresento as mais sérias reservas.

De facto, não apenas não se conhecem casos de jogo de maço sem recurso a um maço de tabaco (atenção ao género do artigo, sr. blogger), ao menos na bibliografia mais relevante (se bem que a terminologia «paralelepípedo» seja mais comummente referenciada pelos AA, na nossa opinião por mero pudor - v.g. Francis Bacon, "An Essay for the Pack's Game - A Proposal for Dogmatic Reasoning", pp. 1365-1377, Platão - "O Banquete na Caverna de Górgias no Lanço", pp. 150-167 e Drew Barrymore "E.T. packed home", pp. 130-196) como certas regras interinas ao jogo disciplinam em termos normativos aspectos específicos relativos ao mesmo.
Por exemplo, sendo comum que o maço seja fornecido por um dos jogadores (ou participantes) e aqui acompanhando o carácter meramente supletivo dessa disciplina, é unívoco e constitui lex omnes indiscutida que o titular do maço pode manuseá-lo sempre que pretender munir-se de um cigarro, desde que não perturbe de forma inconveniente o jogo ou outro jogador (ou participante) e sem que, por isso, incorra em infracção disciplinar.

Parece-nos, por isso, que «paralelepípedo» será sempre uma referência a maço de tabaco. Quod erat demonstradum."

Depois de uma leitura atenta, não conseguimos, apesar de tudo, deslindar o fio argumentativo do Comentador. Vejamos alguns pontos:

"(...) não se conhecem casos de jogo de maço sem recurso a um maço de tabaco (...), ao menos na bibliografia mais relevante (...)".

A este respeito, está o Comentador inteiramente equivocado. A primeira referência a esta particularidade do Jogo do Maço (que o Comentador pretende desmentir) encontra-se no Livro Apócrifo do Martírio de Isaías onde, em 6.16, se pode ler "E jogareis o Jogo (do Maço) munidos de um poliedro, e este poliedro terá 6 lados. Só assim o jogareis, e não de outra maneira. Munidos deste poliedro, verificareis ser cada um dos seus 6 lados um paralelograma, e só então podereis jogar o Jogo (do Maço). Atenção, não chameis sobre vós a ira Dele, jogando com um poliedro com mais ou menos lados, ou em que cada lado seja algo que não um paralelograma. Mas, no que toca aos seus ângulos, é indiferente para Ele que sejam rectângulos, obtusos, ou agudos."

Não só aqui se estabelece inequivocamente que o Maço de Jogo se trata, tão só, de um paralelepípedo, como se afirma ser indiferente tratar-se, este, de um paralelepípedo oblíquo (ver exemplo na figura seguinte)

ou de um paralelepípedo ortoedro (ver exemplo na figura seguinte)

Da importância, para o estabelecimento das regras do Jogo do Maço, daquele trecho, não se pode duvidar, nem de modo algum excluí-lo do conjunto da "bibliografia relevante" para o assunto em causa.

É já correcta a citação, por parte do Comentador, da obra de Drew Barrymore ("E.T. packed home", pp. 130-196). No entanto, o Comentador pretende atribuir à Autora uma espécie de pudor que a terá levado a substituir a expressão "maço de tabaco" por "paralelepípedo". É um caso flagrante de análise apressada a uma obra que marcará (e marca já), pela sua capacidade de síntese analítica, gerações de jogadores.

Ter-se-á dado, o Comentador, à tarefa de estudar o pos-facio a "E.T. packed home", redigido por um dos gémeos Guedes (não identificado)? Acreditamos que não. Pois, se o tivesse feito, teria encontrado a seguinte e reveladora passagem (páginas 228-229):

"Como é sabido, o lobby da indústria tabaqueira vem exercendo, desde os anos 40 (do século XX), um sem-número de acções publicitárias com o intuito velado de fazer crer, às mais recentes gerações de Jogadores, que apenas um maço de tabaco é elegível à categoria de Maço de Jogo. Esta ideia foi inclusivamente adoptado por alguns autores, que, na maior parte das vezes, ignoram o intuito meramente comercial da sua génese (...) Consciente desta deturpação, Barrymore evita toda e qualquer menção ao "maço de tabaco". Dir-se-ia que nos escreve desde grandes e intemporais alturas, propositadamente alheada do Zeitgeist, e nos convida a aceitar o legado puro dos nossos antepassados. Quando Barrymore escreve "paralelepípedo", este termo contém todo um programa, toda uma filosofia (...)"

Os outros pontos levantados pelo comentador Ricardo Guerra merecerão resposta num futuro post.

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1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Num quarto de hotel barato nos arredores de Paris, mamo uma mini (Sagres) para evocar o Jogo. Não pretendia entrar na discussão da materialização possível do paralelepípedo para a prática do Jogo, mas visto que é frequentemente referido como "Jogo do Maço" parece-me que a generalização do Maço a um qualquer paralelepípedo é na sua base teórico/prática injustificada. É evidente que nem todos os paralelepípedos permitem a execução do Jogo, e.g., um tíjolo é um paralelepípedo, assim como, um frigorífico, sendo óbvio que tais objectos não permitem "nota artística" (J. Jesus, conferência de imprensa, Benfica-Everton, 2010) por parte dos jogadores, tendo estes que mamar simplesmente a cada jogada que passa. Disse que não queria entrar nesta discussão, e não tendo um conhecimento bibliográfico suficiente para discutir detalhes que poderão ser pertinentes, passo de imediato à razão (súbita questão) que me fez redigir este comentário. Ora nas figuras que acima representam esquematicamente o "Maço" são propostas dimensões ortogonais (2 x 3 x 6, figura de baixo) e não ortogonais (2 cm x 3cm x ? cm, figura de cima). Deverá o "Maço" respeitar certos limites de volume, peso e normas em termos da sua composição? Julgo que caso a generalização proposta pelo Bloguer Luis Marques da Cruz seja aprovada pelo Concelho tal regulamentação se torna necessária. O que está em causa é a universalidade do jogo. Vejamos por exemplo o que aconteceria se na Suécia se fosse jogado tradicionalmente com um tijolo. Um Português ao ali jogar, habituado à prática saudável de usar o Maço original, seria incapaz de mostrar os seus dotes, o seu precioso tecnicismo. Manifesto no entanto desde já a minha concordância com o comentador Ricardo Guerra. Não me parece razoável a possibilidade de jogar sem um maço de tabaco. Tal objecto é o mais conveniente para a prática do Jogo, como assim o demonstram todos os dados empíricos disponíveis. Fica aqui registada a minha questão.

Saudações a todos os jogadores do Jogo do Maço.

Tiago Ferreira

2 de dezembro de 2011 às 00:40  

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